lundi 19 septembre 2011

Monólogo



Adivinho teu corpo dentro
da noite. Soltos os cabelos
cor de areia fina, delidos
os contornos no linho do lençol.
Dormes tranquilamente. Tudo em
mim é presença tua. E, enquanto
dormes, algo de mim habita
e persiste em ti. Tu dormes
e eu espreito teu sono. Algo
de fluido nos liga e envolve.
Vejo-te lucilar na noite,
teus longos inteiriçados membros
fremindo. Momento breve que perdura.
Depois acordas cinzenta,
banhando em pranto,
oferecendo o perfil suave
ao beijo morno de um céu
onde a aurora se demora.

Rui Knopfli

Para atravessar contigo o deserto do mundo

Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento


Sophia de Mello Breyner Andresen

Conheço esse sentimento

Conheço esse sentimento
que é como a cerejeira
quando está carregada de frutos:
excessivo peso para os ramos da alma.

Conheço esse sentimento
que é o da orla da praia
lambida pela espuma da maré:
quando o mar se retira
as conchas são pequenas saudades
que doem no coração da areia.

Conheço esse sentimento
que é o dos cabelos do salgueiro
revoltos pelas mãos ágeis da tempestade:
na hora quieta do amanhecer
pendem-lhe tristemente os braços
vazios do amado corpo do vento.

Conheço esse sentimento
que passa nos teus olhos e nos meus
quando de mãos dadas
ouvimos o Requiem de Mozart
ou visitamos a nave de Alcobaça.

Pedro e Inês
a praia e a maré
o salgueiro e o vento
a verdade e o sonho
o amor e a morte
o pó das cerejeiras
tu.
e eu.


Rosa Lobato de Faria

samedi 10 septembre 2011

A tua falta

Todas as noites, acontece o mesmo...
Chego perto da minha cama, e enquanto me deito debaixo dos lençóis, suspiro invariávelmente pela mesma razão : ah se tu cá estivesses...
Viro-me, e imagino como seria se estivesses a meu lado...
Imagino, o calor do teu corpo contra o meu... A tua pele macia a aquecer a minha... 
Os teus braços abraçando-me com carinho, apertando-me contra ti, como que para nunca mais me largar...
Encostava-me a ti, reconfortada pela sensação de segurança que o teu abraço provoca em mim...
Saboreava a doçura do momento, ouvindo os batimentos calmos do teu coração a acompanhar o meu...
Procurava os teus lábios, o teu sabor, e tu beijavas-me intensamente...
Sentia novamente a suavidade dos teus lábios, a delícia das tuas carícias...
E chegava para me fazer sentir a mulher mais feliz do mundo...


Sara P.